Juíza fica propensa a anular leilão do Brinco em prol de credores do Bugre

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Ana Cláudia Vianna Torres marca reunião com representantes no dia 10 de junho, e Guarani agenda assembleia com sócios dois dias antes. Pagamento à vista facilita

O controle do Brinco de Ouro pende mais para Roberto Graziano do que para o Grupo Zaffari. Após ouvir as propostas das empresas interessadas no terreno durante a última semana (saiba mais detalhes das ofertas abaixo), a juíza Ana Cláudia Torres Vianna admite que o que a MMG oferece é melhor do ponto de vista dos credores, por se tratar de um pagamento à vista. Com isso, a chance de cancelamento do leilão do estádio, antes visto como improvável, ganha força nos bastidores. Veja abaixo as declarações da magistrada, em entrevista à EPTV.

Ana Cláudia Torres Vianna analisa cada reviravolta do leilão do Estádio Brinco de Ouro (Foto: Carlos Velardi / EPTV)

Guarani e Justiça do Trabalho estudam a melhor forma de resolver a situação. O clube convocou uma assembleia com sócios para o dia 8 de junho, às 19h30, no Brinco de Ouro, a fim de discutir os detalhes das propostas feitas por MMG e Grupo Zaffari (ambas atingem R$ 105 milhões, mas diferem em alguns pontos).Dois dias depois, Ana Cláudia Torres Vianna conversará com alguns representantes dos credores para ouvir o que é melhor para eles.

A decisão sairá a partir dos dois encontros. O Guarani nunca escondeu a preferência pelo grupo liderado por Roberto Graziano, que já tinha a aprovação dos sócios em assembleia feita no mês de novembro e seguiu em tratativas extraoficiais com o presidente Horley Senna. A magistrada, por sua vez, tentou mediar um acordo entre Bugre e o Grupo Zaffari, cuja sede fica em Porto Alegre, mas desistiu ao perceber a enorme rejeição do clube com os investidores.

– Já fiz várias decisões e ainda me sobram muitas dúvidas. Tenho sofrido bastante – afirmou.

Hoje, a juíza mostra-se propensa a aceitar a oferta feita por Graziano, principalmente por um fator: pagamento à vista dos credores. A empresa já tem R$ 44,5 milhões parados na Justiça Federal, por conta do leilão cancelado em novembro, e colocaria o dinheiro à disposição assim que a decisão for tomada. A MMG oferece, além da quitação dos débitos trabalhistas, um aporte mensal para que o Guarani toque o futebol profissional por 130 meses.

No entanto, a postura dos investidores gaúchos também pode pesar na decisão. Ana Cláudia fez elogios a representantes do Grupo Zaffari, que viajaram várias vezes a Campinas em busca de diálogo com o Guarani. A expectativa é que uma decisão seja anunciada no máximo uma semana depois da reunião entre a juíza e os credores. A parte perdedora, no entanto, tem direito a recorrer em segunda instância.

Confira os trechos da entrevista da juíza Ana Cláudia Torres Vianna:

AUDIÊNCIA COM CREDORES
– Já fiz várias decisões e ainda me sobram muitas dúvidas. Resolvi chamar audiência com os credores para atualizar todas as mediações que foram feitas até o momento e essa última proposta, que foi ampliada pela MMG e envolve pagamento imediato de todo passivo trabalhista. É um fator que eu tenho considerado e tenho sofrido bastante. Se o processo segue, vai se caminhar por muito tempo ainda.

A MELHOR PROPOSTA
– Hoje a proposta colocada no processo que melhor atende a tudo, sem dúvida, é da MMG. Ela permite pagamento imediato aos trabalhadores, o Guarani tem uma simpatia que não esconde, pela parceria que tem há tempos, por ter um aporte mensal imediato. Mas a outra empresa demonstrou muito boa vontade, veio aqui, abriu a proposta de construção de uma arena. A proposta da MMG é melhor no aspecto de ter a garantia dos 14% do empreendimento, do VGV (Valor Geral de Venda do futuro empreendimento que será construído). Mas essa garantia não está muito clara, isso teria que ser discutido um pouco melhor. Nominalmente, elas estão iguais, mas resta saber a participação do Guarani no VGV. Isso precisa ser mais detalhado e está muito simplificado.

(Foto: Divulgação Assessoria de Imprensa Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região)

POSTURA DE ROBERTO GRAZIANO
– Ele foi melhorando (o oferta) no decorrer das negociações com a Maxion. Existe um grande interesse da empresa em não perder o negócio. É muito difícil desprezar o pagamento imediato. Mas o leilão foi muito complexo, demanda muita interpretação. Tenho que analisar no julgamento todos os desdobramentos. Temos duas propostas aí que são boas, dois caminhos processuais. Um é melhor, pois resolve toda a questão trabalhista e joga as empresas para discutir em uma outra instância a validade do leilão.

DESDOBRAMENTOS DE UMA POSSÍVEL ANULAÇÃO
– Se eu optar por anular o leilão e aceitar a proposta, a empresa que arrematou tem direito a um recurso. Então tudo vai ser decidido em segunda instância. Ele (Roberto Graziano) fez a proposta, autorizaríamos o pagamento imediato, ele negocia as matrículas com a prefeitura, mas tem um detalhe a mais. Ainda que o Guarani fechasse com a Maxion, tem o recurso da MMG no TRF (Tribunal Regional Federal), do primeiro leilão que aconteceu. Tem isso ainda. O acordo do Guarani com a Maxion também dependeria desse recurso do TRF em outra Justiça, analisando o primeiro leilão que foi feito.

POSICIONAMENTO DOS CREDORES
– Vou ouvir, porque a proposta foi colocada. Os credores precisariam dar um pequeno desconto. Acredito que, com a possibilidade de pagamento imediato, não haja muitas dúvidas de qual os credores vão preferir. Quero que eles me levantem eventuais problemas que enxergam em uma ou outra proposta. Já deveria ter soltado essa decisão, mas isso só atrapalharia. Por isso que fui segurando esse momento. Preciso expor para os credores para que eles possam entender. Em uma semana devo estar decidindo.

ASSEMBLEIA DO GUARANI
– O Guarani sabe dessas deficiências da proposta. Como vai ter uma assembleia para discutir isso, talvez já tragam isso melhor definido. Senão, preciso entender para optar por essa proposta.

 
ACORDO ENTRE GUARANI E MMG
– Ainda tenho algumas dúvidas de como seria essa garantia, de qual o negócio, a exclusão do shopping, o que envolve [os 14% do VGV prometidos por Roberto Graziano não incluem os lucros obtidos com shopping e hotel]. Isso tem que ficar um pouco mais explicado. Mas esse ponto interessa diretamente ao Guarani, então preciso entender isso para saber se uma proposta é mesmo melhor que a outra. Quero resolver no dia 10, porque todos (Guarani, Grupo Zaffari, MMG e credores) vão estar presentes. Será possível esclarecer melhor a proposta e as garantias contratuais.

PAGAMENTO IMEDIATO DAS DÍVIDAS
– A proposta da MMG permitiria isso. Essa é a razão da minha angústia. Tantos anos para fazer valer a decisão e agora está bem próximo disso. Mas tem o interesse de outra empresa envolvida, que veio aqui, negociou, sempre teve boa vontade. O leilão precisa ser legalista, transparente. Ele tem que vender aquilo que entrega. Me preocupo com a legalidade do leilão, independente da proposta ser boa para o Guarani e aos trabalhadores. Tenho que garantir um leilão dentro da legalidade. É isso que a empresa que arrematou espera.

PASSIVO DO GUARANI
– Estou há dez anos em Campinas e há dez anos convivo com esse problema. Era muito comum penhora de renda (de jogos do Guarani). Esse problema é recorrente. Uma dívida de milhões não nasceu há um ano. Há uma expectativa muito grande que isso se resolva. Por isso toda a necessidade de amadurecimento e conversa. Por isso tem demorado. Uma decisão judicial não acomoda todos esses interesses.

FONTE: Globo Esporte Campinas (http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/futebol/times/guarani/noticia/2015/05/juiza-fica-propensa-anular-leilao-do-brinco-em-prol-de-credores-do-bugre.html)

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